sexta-feira, 15 de maio de 2015

Reportagem da TV Record calunia, difama e criminaliza as Ocupações da Izidora. Nota Pública.

Reportagem da TV Record calunia, difama e criminaliza as Ocupações da Izidora. Nota Pública.
Ontem, dia 14/05/2015, reportagem da TV Record, lamentavelmente, caluniou, difamou e criminalizou o povo das Ocupações da Izidora, Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória, cerca de 8.000 famílias. E pior, pavimenta e estimula a realização de despejos forçados, o que pode causar a maior violação de direitos da história de MG.
O título da reportagem - Caos em Ocupação: “terra sem lei” - é uma grande mentira que atiça a violência do Estado sobre milhares de famílias trabalhadoras que estão de forma justa e legítima lutando para se libertar da pesadíssima cruz do aluguel e conquistar moradia digna. É mentira dizer que em quase dois anos a PM está proibida de entrar nas Ocupações da Izidora, porque há barricadas etc. As barricadas só foram feitas em agosto de 2014 quando havia fortíssima pressão para realizar os despejos. Logo após retomarmos as negociações sob a liderança do Ministério Público, em setembro de 2014, as barricadas foram desfeitas.
Mas é preciso entender o contexto que levou à recolocação das barricadas apenas em um dia, retiradas depois, na data 11/05/2015. Na Mesa de Negociação e Diálogo os empresários (o capital) propõem e o Governo de MG e PBH pressionam: é aceitar a proposta da Direcional ou despejo! Diante do maior conflito fundiário do Brasil, que envolve milhares de famílias das 3 ocupações da região da Izidora, a latifundiária família Werneck, a Construtora Direcional e o Governo de Minas têm jogado sujo. Ao contrário do que disse a matéria, a PM entrou nas comunidades, causando constrangimento e medo, com carro de som escoltado pela PM, dia 11 de maio de 2015, e ainda distribuindo panfletos, dia 05/05/2015, que buscam enganar as famílias. Com essa propaganda querem impor uma única solução para o conflito: a proposta das empresas, que significa o investimento público (dinheiro nosso) no despejo das comunidades e na construção do megaempreendimento do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), com a garantia do máximo de lucros, mais de 400 milhões de reais para a Direcional.
Criado após a crise internacional de 2008, o MCMV, maior programa habitacional do país, deveria ser motivo de orgulho pra toda população. Porém, lamentavelmente, o MCMV tem produzido pelo Brasil afora empreendimentos de milhares de unidades, sem qualidade e sem infraestrutura urbana adequada, que só alimentam os bolsos das construtoras. Cerca de 70% dos recursos do Programa, nas duas primeiras fases, beneficiaram 10 consórcios de empresas, entre elas a Direcional que, aliás, é uma das maiores financiadoras de campanhas eleitorais do país.
Por que a Imprensa não divulga esse contexto mais profundo?
Logo, foi para se defender que o povo recolocou as barricadas dia 11/05/2015. Exceto os momentos de tensão para se realizar os despejos, a PM teve sempre acesso totalmente livre às Ocupações nestes dois anos de história e luta. Ainda não podemos negar o acesso do braço armado do Estado às nossas comunidades, enquanto não desenvolvemos nossos sistemas de segurança comunitária e popular, também dependemos do trabalho da polícia e ela, nesse tempo todo, teve livre acesso em nossas comunidades, ainda em que suas ações fossem repletas de desrespeito, arbitrariedades e violências injustas e indiscriminadas contra nossas famílias.
A reportagem ouviu um comerciante sentindo-se ameaçado por alguém que ele diz estar nas ocupações, mas a visão predominante entre os comerciantes e moradores da região é de apoio às ocupações. Reconhecem que o povo ocupou os terrenos abandonados por necessidade, porque estavam sem-casa e têm direito de lutar para conquistar moradia própria e digna. Essa é a visão predominante na região. Logo, pegar um caso e generalizar é agredir a dignidade de milhares de pessoas que vivem nas ocupações e são pessoas trabalhadoras: domésticas, vigias, serventes, pedreiros, taxistas, secretárias etc, normalmente, profissões manuais, que são imprescindíveis no funcionamento da cidade. Se a força de trabalho dos milhares de famílias é querida pelo mercado e pela sociedade, por que a dignidade desse povo não pode ser respeitada?
As ocupações não são terra sem lei. São territórios-comunidades em franco processo de consolidação, com regimento interno com uma série de regras a serem seguidas, com coordenação, assembleias de organização interna semanais como o repórter comenta e admite, com índices de violência muito baixos em comparação a maioria dos demais bairros “formais” (reconhecido inclusive pela própria PM) e, acima de tudo, com luta coletiva para que um direito constitucional, que é o de morar dignamente, seja conquistado. As Ocupações são territórios constitucionais e como tais são acompanhados por movimentos sociais como as Brigadas Populares e o MLB e também acompanhados pela Comissão Pastoral da Terra da Igreja Católica.
Já fizemos várias reuniões com comandantes da PM buscando diálogo e exigindo que a PM cumpra sua missão de promover a segurança pública no interior das ocupações, mas sem pisar na dignidade de pessoas trabalhadoras, discriminando-as, desrespeitando-as e violando seus direitos, tal como recorrentemente ocorre. É preciso que o Estado e a Polícia Militar compreendam que as famílias ocupantes são cidadãs e seus membros sujeitos de direitos e devem ser tratados como tal.
Ouvir um policial e generalizar como se ele representasse toda a PM também é injustiça, pois criminaliza milhares de pessoas ao generalizar casos particulares, que são exceções e não a regra. Há muitos policiais que reconhecem a justeza da luta do povo das ocupações. As ocupações não são perfeitas, mas não é justo julgar o povo pelas exceções que não são regras. A regra é que nas ocupações estão pessoas trabalhadoras, honestas e lutadoras por seus direitos. Pessoas que cometem atos ilícitos há em todos os setores da sociedade, por exemplo, entre 20 mil pessoas no Brasil que tem foro privilegiado, o que é uma excrescência, é cuspir no rosto dos pobres. Ou há cerca de pouco mais de um ano a sociedade mineira não foi testemunha de um caso de tráfico internacional de drogas, realizado com suporte de recursos de nossa própria assembleia estadual - o caso popularmente conhecido como Helicóptero do Pó, cujo o principal suspeito, ex-deputado de Minas Gerais, está sendo absurdamente inocentado por nossas instituições corrompidas?
Enfim, a questão que envolve as Ocupações da Izidora é uma questão social que jamais se resolverá de forma justa e pacífica com polícia e com repressão. Por que uma reportagem que dá mais voz a um policial que tem preconceito contra o povo das ocupações e a um comerciante que não representa a maioria dos comerciantes? Por que não ouvir mais os moradores e a vizinhança que apoia as ocupações? É evidente e transborda aos olhos dos telespectadores e cidadãos mineiros a ausência total de ética, transparência e compromisso com a verdade da rede de Televisão Record. É lamentável que nossa sociedade não se revolte contra meios de comunicação que prestam mais bem um desserviço à humanidade, à sensatez, à justiça e à paz.
Repudiamos esse tipo de reportagem, porque fomenta e alimenta a orquestração para se tentar despejar de forma forçada, o que poderá causar um massacre sem precedentes em Minas Gerais.

Belo Horizonte, 15 de maio de 2015.

Assinam essa Nota Pública:
Coordenações das Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória.
Brigadas Populares – Minas Gerais
Comissão Pastoral da Terra (CPT-MG)
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)

Maiores informações nos blogs das Ocupações, abaixo:


Nossos direitos vêm...” Pátria Livre! Venceremos!

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